Todos nós já passamos por situações assim: um dia estressante no trabalho, dificuldade em lidar com as crianças ou com os estudos… Normalmente nestas situações ficamos exaustos, tanto mental quanto fisicamente, mas ainda assim conseguimos nos esforçar mais um pouco e vamos à academia… Você já se perguntou por que fazemos isso? Porque no fundo de nosso ser sabemos o quanto melhor nos sentiremos depois de uma aula de exercícios aeróbicos à noite, uma hora de treino de artes marciais ou um treino com pesos desafiador. Ao final nos sentimos revigorados, rejuvenescidos e verdadeiramente transformados.

Claramente, existe uma relação entre exercício físico e o cérebro, mas o que é isso? O que gera essa melhoria tão dramática no humor, na saúde mental e até na memória após um treino?

De forma simples podemos dizer que é uma mudança na bioquímica cerebral que ocorre quando você se conecta. O cérebro humano é composto de células chamadas neurônios – 100 bilhões delas – que transmitem sinais químicos entre si e permitem que você interprete o mundo, tanto dentro quanto fora. Esses sinais químicos, chamados de neurotransmissores, são responsáveis ​​por como você se sente, como pensa e como se comporta. Existem aproximadamente 100 neurotransmissores trabalhando no cérebro para realizar uma variedade de funções, mas dois tipos de neurotransmissores em particular – endorfinas e serotonina – são responsáveis ​​pelo motivo de você se sentir tão bem quando se exercita.

Se você participar de qualquer tipo de atividade de resistência, como um vigoroso Sprint, triátlon ou um trote na esteira a uma longa caminhada com seu cão, seu cérebro libera endorfinas, que são os neurotransmissores responsáveis ​​pelo que alguns chamam de “corredor alto” (sensação que você tem depois de um exercício aeróbico). Mas por que as endorfinas nos deixam mais serenos quando fazemos nosso coração acelerar? As endorfinas são o analgésico interno do corpo. Então, ao invés de sentir dor, as endorfinas deixam você sentindo prazer.

Já a serotonina é um neurotransmissor que estimula o humor e é conhecida como a “substância química feliz” porque também nos faz sentir bem. Mas, ao contrário das endorfinas, que inicialmente bloqueiam a dor para produzir prazer, a serotonina promove o próprio prazer. De fato, as pesquisas mostram que a falta de serotonina no cérebro em alguns indivíduos tem sido associada à doença depressiva. É também por isso que os medicamentos antidepressivos mais comumente prescritos hoje funcionam bombeando mais serotonina para o cérebro.

Existe, no entanto, um caminho não farmacológico para desencadear a produção de serotonina. As pesquisas indicam que a atividade física pode aumentar os níveis de serotonina no cérebro. Por exemplo, um trabalho de pesquisa publicado no Journal of Psychiatry and Neuroscience incluiu o exercício entre as várias abordagens possíveis para aumentar os níveis de serotonina no cérebro.

Mas não é apenas a atividade aeróbica que pode aliviar os sintomas da depressão. Mais recentemente, o treinamento de força – que inclui desde exercícios com peso corporal e exercícios com bandas elásticas de resistência até máquinas e exercícios com pesos livres – também demonstrou melhorar a saúde mental e reduzir a incidência de doenças depressivas.

Além disso, enquanto altos níveis de serotonina e endorfinas induzidas por exercícios têm sido associados com um humor melhor, outro composto cerebral – uma proteína chamada fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) – também promove a saúde cognitiva em áreas como memória, aprendizagem e depressão. (Ratey, 2008). O principal papel do BDNF é promover a sobrevivência e o crescimento de neurônios e assegurar a transmissão adequada de mensagens químicas entre as células cerebrais. Se os neurônios morrem, os sinais químicos são interrompidos e o funcionamento cognitivo diminui. A presença do BDNF fortalece os neurônios, garantindo a sua capacidade de sobrevivência, o que significa que a sinalização de mensagem continua a ser bem transmitida, mantendo o humor positivo, memória intacta e o melhor aprendizado. Não é surpresa que a melhor maneira de desencadear a produção de proteína BDNF seja? Você adivinhou! O exercício.

É claro que entender o funcionamento interno de seu cérebro no exercício físico é mais do que apenas um bom conjunto de fatos para se saber sobre o bem-estar mental. Saber exatamente por que o exercício ajuda a melhorar seu humor pode ser uma ferramenta poderosa para levá-lo à academia nos dias em que você preferiria ignorá-lo.

Fernando Morais
Embaixador da Qualidade em Atividade Física, Exercício e Saúde
Personal Fitness Trainer certificado pela IFBB
CREF. 092883-G/SP

Referência
Ratey, J.J. (2008) Spark: The Revolutionary New Science of Exercise and the Brain. Boston, Mass.: Little, Brown and Company.